ATLÂNTICO
Miguel Gaspar DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Lisboa, Abril de 1999
A RTP já não estava habituada a tanto elogio por centímetro quadrado de prosa. Mas aconteceu. Com Atlântico, o serviço público reencontrou um consenso em seu redor. Em tudo contrastante com a atitude que tem rodeado as apostas mais recentes da programação da casa.Já tudo foi dito sobre a qualidade do programa de Eugénia Melo e Castro. Da qualidade dos duetos ao nível da apresentação de Nelson Motta e da própria Eugénia, de dinâmica do programa ao modo como soube projectar a sua homogeneidade temática. Um sucesso merecido, Atlântico foi uma aposta certa. E espera-se, tenderá a fazer um caminho em crescendo, ao nível da necessária aceitação pública.
Sendo um produto televisivo conseguido, grande parte do êxito de Atlântico deve-se ao facto de Ter introduzido uma ruptura no modo como a música tem sido tratada na televisão, e não apenas na RTP. Ou seja, cortou-se com a ideia de que a lógica televisiva e só a lógica televisiva deve dominar em matéria de programas musicais. O essencial aqui é a música ter qualidade. Sem isso, todos os méritos televisivos de Atlântico resultariam em meros adornos para um conteúdo oco. Porque é que a lógica musical é dominante? Porque se foram buscar alguns dos realmente melhores e criou-se um evento não só autêntico, mas único, do ponto de vista artístico. Além disso, Atlântico aproxima de facto Portugal e o Brasil. Mostra ainda, para bem do nosso ego nacional, como a música popular portuguesa aguenta hoje esse encontro com a melhor música popular do mundo. Não é coisa pouca. Renunciou-se assim à vacuidade do espectáculo televisivo em favor do que tem realmente sentido.
Atlântico venceu e com ele, espera-se, foi derrotada a ideia de que é preciso ser-se vazio e artificial para ganhar no pequeno ecrã.
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